Uma façanha de resistência humana, mecânica e de aviação — e que até hoje é recorde.
Em 4 de dezembro de 1958, no aeroporto McCarran Field (hoje Harry Reid International Airport) em Las Vegas, Timm e Cook decolaram numa modesta Cessna 172 — apelidada Hacienda — com um objetivo pouco convencional: não pousar por mais de dois meses. Até 7 de fevereiro de 1959, ficaram no ar 64 dias, 22 horas, 19 minutos e 5 segundos — um recorde oficial da Fédération Aéronautique Internationale (FAI) que permanece imbatível.
Durante esse tempo, percorreram cerca de 240.000 km, o equivalente a dar seis voltas ao redor da Terra.
As modificações da aeronave: tornar o impossível possível
A Cessna 172 foi modificada extensivamente: instalaram um tanque externo (“belly tank”) de cerca de 95 galões (~360 litros) para aumentar a capacidade de combustível além dos tanques originais. Um sistema de bomba elétrica permitia transferir combustível do tanque extra para os tanques principais em voo. Preocupados com desgaste e acúmulo de carbono no motor, implantaram um sistema de injeção de etanol e alterações nos circuitos de óleo e ignição para permitir manutenção mínima em voo. No interior da cabine, removeram bancos, instalaram um colchão, uma pia improvisada, e converteram a porta lateral para facilitar o reabastecimento e ingresso de suprimentos em pleno voo. A FAA concedeu uma dispensa para que a aeronave operasse com peso acima do normal, autorizado 350-400 libras (~160-180 kg) além do limite regular.
Vida a bordo: rotina, desafios e resistência
A escala de revezamento era de cerca de 4 h por piloto sentado no comando, enquanto o outro descansava no colchão improvisado.
A falta de sono, o ruído contínuo do motor, a vibração e o confinamento tornaram a missão também um desafio psicológico. Por exemplo: > “No dia 36, Timm adormeceu ao comando, e o avião voou sozinho durante mais de uma hora.”
As necessidades fisiológicas foram resolvidas de maneira improvisada: sanitário dobrável, sacos plásticos, e descarte sobre áreas desérticas — assunto que gerou curiosidade e humor entre entusiastas.
Em certos momentos, falhas ocorreram: no dia 39, uma falha elétrica inutilizou o aquecedor da cabine, a bomba elétrica de combustível e impediram o aquecimento — obrigando a operação manual da bomba e uso de agasalhos para suportar o frio.
Reabastecimento em pleno voo e logística terrestre
Um dos aspectos mais extraordinários: o reabastecimento era realizado abaixo da aeronave, com um caminhão se alinhando em uma estrada reta no deserto, e a Cessna voando a cerca de 20 pés (≈6 m) acima dele, em baixa velocidade, para içar uma mangueira que permitia transferir combustível em cerca de três minutos.
Foram realizadas mais de 120 manobras de reabastecimento durante a missão.
Além do combustível, também eram reabastecidos alimentos, água, suprimentos — enviados por corda ou cesta durante o encontro com o caminhão.

Por que essa missão foi tão importante
Mais do que um “truque publicitário” — embora tenha começado como tal, patrocinado pelo hotel Hacienda Hotel & Casino para promoção — o voo demonstrou a confiabilidade de pequenos aviões em condições extremas.
O projeto acendeu o interesse por voos de resistência, por modificações aeronáuticas e pela criatividade no planejamento de aviação experimental.
O recorde permanece até hoje porque a FAI aposentou a categoria de voos de resistência tripulados desse tipo por motivos de segurança — o que torna o feito de Timm e Cook virtualmente intocável.
Curiosidades que encantam
O número da aeronave era N9172B, o indicativo “72 Bravo” refere-se ao número visível na fuselagem.
Durante o voo, no Natal, Timm lançou doces com paraquedas para os filhos enquanto sobrevoava o deserto.
Eles pintaram as rodas do avião de branco para que fosse fácil detectar se havia pousado: se a pintura estivesse raspada, significava que haviam tocado o solo clandestinamente.
O avião se encontra exposto hoje no aeroporto de Las Vegas, como memória desse recorde histórico.

✈️ Um feito que começou como uma aposta acabou se tornando um marco da aviação mundial — e um tributo à engenhosidade dos mecânicos e pilotos da época.
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