Quando um avião decola, o público em geral imagina que o risco está no ar. Mas, na verdade, a maioria dos acidentes ocorre perto do solo, em momentos muito específicos: a decolagem e o pouso.
Essas duas etapas, conhecidas como fases críticas do voo, concentram mais de 70% dos acidentes aeronáuticos no mundo, segundo dados do Boeing Statistical Summary of Commercial Jet Airplane Accidents e do CENIPA no Brasil.
Mas por que justamente esses momentos são tão delicados?
Neste artigo, O Aeronauta explica o que torna cada fase crítica, quais os principais riscos e como a segurança operacional atua para reduzi-los.
🛫 1. Decolagem – O início da missão
A decolagem é uma das etapas mais complexas do voo.
Nela, os motores trabalham em potência máxima, o peso da aeronave é elevado e o tempo para reagir a qualquer anormalidade é mínimo.
🔹 Por que é uma fase crítica
- Velocidades próximas ao limite de sustentação.
- Pista curta ou molhada pode comprometer a aceleração.
- Falhas de motor ou sistemas são mais graves, pois ainda não há altura ou velocidade para manobras seguras.
🔹 Ocorrências mais comuns
- Rejeição tardia da decolagem (RTO) acima da velocidade V1.
- Tail strike (toque de cauda) devido à rotação excessiva.
- Saída de pista (runway excursion) por perda direcional.
- Falha de motor após V1, exigindo controle assimétrico e retorno imediato.
✈️ Fator humano
A carga de trabalho é alta: monitorar instrumentos, manter alinhamento, aplicar potência e confirmar velocidades críticas.
Um pequeno erro de julgamento pode comprometer toda a operação.
🧭 2. Subida inicial – Deixando o solo
Nos primeiros minutos de voo, a aeronave ainda está ganhando altitude e configurada com flaps, trem de pouso baixado e potência elevada.
Qualquer falha exige reação rápida e coordenação precisa entre piloto e copiloto.
🔹 Riscos típicos
- Falha de motor após a decolagem.
- Colisão com aves (bird strike).
- Desorientação espacial em condições IMC.
Essa fase, embora curta, requer atenção máxima e planejamento prévio para emergências — especialmente em aeroportos cercados por obstáculos ou áreas urbanas.
🛬 3. Aproximação e pouso – O desafio final
O pouso é, estatisticamente, o momento que mais concentra ocorrências.
Com pouca margem para erro, a aeronave está em baixa altitude, baixa energia e dependente da precisão das manobras.
🔹 Por que é tão crítico
- A velocidade deve estar dentro de limites estreitos.
- O flare (arredondamento) exige sensibilidade e experiência.
- As condições meteorológicas (vento cruzado, chuva, visibilidade) influenciam diretamente.
🔹 Ocorrências mais comuns
- Hard landing (pouso duro) por excesso de razão de descida.
- Porpoising (efeito “golfinho”) por atitude incorreta no toque.
- Tail strike durante o flare.
- Runway overrun (ultrapassagem da pista).
- Loss of directional control após o toque.

🌤️ 4. Outras fases e sua importância
Embora decolagem e pouso sejam os momentos mais críticos, as demais fases do voo — subida, cruzeiro e descida — também exigem vigilância constante.
| Fase | Riscos principais | Grau de criticidade |
|---|---|---|
| Decolagem | Falha de motor, saída de pista, tail strike | 🚨 Alta |
| Subida inicial | Bird strike, desorientação, falha de sistema | ⚠️ Alta |
| Cruzeiro | Falha mecânica, despressurização, turbulência severa | 🟡 Média |
| Descida e aproximação | Velocidade incorreta, desestabilização | ⚠️ Alta |
| Pouso | Hard landing, porpoising, overrun | 🚨 Muito alta |
🧩 5. O papel do treinamento e da prevenção
A segurança nessas fases depende diretamente de procedimentos padronizados, treinamento em simuladores e disciplina operacional.
Programas como o CRM (Crew Resource Management) e as análises do CENIPA são fundamentais para reduzir os riscos e aprimorar o desempenho das tripulações.
“Um voo seguro não depende apenas de tecnologia, mas de treinamento, coordenação e tomada de decisão”,
— CENIPA – Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos.
🧭 Conclusão
As fases críticas do voo mostram que a segurança aérea é o resultado de preparo, técnica e disciplina.
Decolar e pousar com segurança não é apenas uma questão de habilidade — é fruto de procedimentos rigorosos e lições aprendidas ao longo da história da aviação.
Cada checklist, cada simulado e cada investigação têm um objetivo em comum: garantir que o próximo voo termine exatamente como começou — com segurança.







